Hilaire, Jean
Notas Bibliográficas18
L’AVENIR,

Monitor do Espiritismo

Durante muito tempo batalhamos quase sozinhos para sustentar a luta tramada contra o Espiritismo. Eis, porém, que surgiram campeões de diversos lados e entraram corajosamente na liça, como para dar um desmentido aos que pretendem que o Espiritismo se vai. Primeiro, o Vérité, em Lyon; depois, o Ruche, o Sauveur e a Lumière, em Bordeaux; a Revue Spirite d’Anvers, na Bélgica; os Annales du Spiritisme en Italie, em Turim. Temos a satisfação de dizer que todos empunham bravamente a bandeira, e provaram aos nossos adversários que achariam com quem contar. Se fazemos justos elogios à firmeza de que esses jornais deram prova, por suas refutações cheias de lógica, devemos, sobretudo, elogiá-los por não se terem afastado da moderação, que é o caráter essencial do Espiritismo e, ao mesmo tempo, a prova de sua verdadeira força; por não terem seguido os nossos antagonistas no terreno do personalismo e da injúria, sinal incontestável de fraqueza, porquanto não se chega a tal extremo senão quando se 18 Vide, mais adiante, os anúncios detalhados a respeito das diversas obras sobre o Espiritismo. está necessitado de boas razões. Aquele que está de posse de argumentos sérios os faz valer; não os substitui ou se guarda de os enfraquecer por uma linguagem indigna de uma boa causa.

Em Paris, um recém-vindo se apresenta sob o título despretensioso de Avenir, Moniteur du Spiritisme. A maioria de nossos leitores já o conhece, bem como o seu redator-chefe, o Sr. d’Ambel, e o puderam julgar por suas primeiras armas. A melhor publicidade é provar o que se pode fazer; depois, o grande júri da opinião pronuncia o veredicto. Ora, não duvidamos que este lhe seja favorável, a julgar pela acolhida simpática recebida por ocasião de seu aparecimento.

A ele, pois, também as nossas simpatias pessoais,conquistadas previamente por todas as publicações susceptíveis de servir valiosamente à causa do Espiritismo; porque não poderíamos conscientemente apoiar, nem encorajar, aqueles que, pela forma ou pelo fundo, voluntariamente ou por imprudência, lhe fossem mais prejudiciais do que úteis, iludindo a opinião quanto ao verdadeiro caráter da doutrina, ou oferecendo combustível aos ataques e às críticas fundadas dos nossos inimigos. Em semelhante caso, a intenção não pode ser julgada pelo fato.

CARTAS SOBRE O ESPIRITISMO

Escritas aos eclesiásticos pela Sra. J. B., com esta epígrafe de circunstância, que é um sinal característico de nossa época

Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não o podeis suportar. Quando, porém, vier o Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. E quando ele vier,convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. (São João, 16:12, 13 e 8).

As reflexões que fizemos acima, a propósito do Avenir,não se aplicam apenas às folhas periódicas, mas às publicações de qualquer outra natureza, volumes ou brochuras, cujo número se multiplica incessantemente, e cujos autores são igualmente campeões que participam da luta e trazem a sua pedra ao edifício. Saudação fraterna de boas-vindas a todos esses defensores, homens e mulheres que, sacudindo o jugo dos velhos preconceitos, içam a bandeira sem segunda intenção pessoal, sem outro interesse que o do bem geral e fazem retinir o grito libertador e emancipador da Humanidade: Fora da caridade não há salvação! Apenas pronunciado esse grito pela primeira vez e cada um compreendeu que encerrava toda uma revolução moral, desde há muito tempo pressentida e desejada, e que encontrou ecos simpáticos nas cinco partes do mundo. Foi saudado como a aurora de um futuro venturoso e, em poucos meses, tornou-se a contra-senha de todos os espíritas sinceros. É que, após uma luta tão grande e tão cruel contra o egoísmo, enfim deixava entrever o reino da fraternidade.

A brochura que aqui anunciamos é devida a uma senhora, membro da Sociedade Espírita de Paris, excelente médium, chefe de um grupo particular admiravelmente dirigido e a quem não se poderia censurar senão um excesso de modéstia, se excesso pudesse haver no bem. Se só assinou seu escrito por iniciais, por certo pensou que um nome desconhecido não é uma recomendação; além do mais, não tem a menor intenção de se apresentar como escritora. Mas nem por isso deixa de ter a coragem da opinião, que não é mistério para ninguém.

A Sra. J. B. é sinceramente católica, mas católica muito esclarecida, o que diz tudo. Sua brochura é escrita desse ponto de vista e, por isto mesmo, dirige-se principalmente aos membros do clero. É impossível refutar com mais talento, elegância na forma, moderação e lógica, os argumentos que uma fé exclusiva e cega contrapõe às idéias novas. Recomendamos esse interessante trabalho aos nossos leitores. Eles podem, sem receio, propagá-lo entre as pessoas que desconfiam da ortodoxia, e o dar em resposta aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, do ponto de vista religioso.

OS MILAGRES DE NOSSOS DIAS
Por Aug. Bez

Sob esse título, o Sr. Aug. Bez, de Bordeaux, acaba de publicar o relato das manifestações de Jean Hillaire, médium extraordinário, cujas faculdades lembram, sob muitos aspectos, as do Sr. Home, chegando mesmo a ultrapassá-las em certos pontos.

O Sr. Home é um homem do mundo, de maneiras afáveis e cheias de urbanidade, que só se revelou à mais alta aristocracia. Jean Hillaire é um simples cultivador da Charente-Inférieure, pouco letrado, que vive do seu trabalho. Suas maiores excursões, ao que parece, foram de Sonnac, seu vilarejo, a Saint-Jean d’Angely e a Bordeaux; mas Deus, na repartição de seus dons, não leva em conta as posições sociais; quer que a luz se faça em todos os graus da escala, razão por que os concede aos grandes e aos pequenos.

A crítica e a calúnia odiosa não pouparam o Sr. Home. Sem consideração às altas personagens que o honraram com sua estima, que o receberam e ainda o recebem em sua intimidade, a título de comensal e amigo, a incredulidade zombeteira, que nada respeita, se deleitou em ridicularizá-lo, em apresentá-lo como vil charlatão e hábil prestidigitador, numa palavra, como um saltimbanco de fina educação. Não se deteve nem mesmo ante a idéia de que tais ataques atingiam a honorabilidade das mais respeitáveis pessoas, acusadas, por isso mesmo, de conivência com um suposto ilusionista. Dissemos a seu respeito que basta tê-lo visto para julgar que seria o mais desastrado charlatão, porque não tem atitudes audaciosas nem loquacidade, que se não coadunariam com a sua timidez habitual. Aliás, quem poderia dizer que alguma vez ele tivesse fixado preço às suas manifestações? O motivo que ultimamente o conduzia a Roma, de onde foi expulso, para ali se aperfeiçoar em escultura e desta tirar seus recursos, é o mais formal desmentido aos seus detratores. Mas que importa! Eles disseram que é um charlatão, e não querem dar o braço a torcer.

Os que conhecem Hillaire igualmente puderam convencer-se de que ele seria um charlatão ainda mais desastrado. Nunca seria demais repetir: o móvel do charlatanismo é sempre o interesse; onde não há nada a ganhar o charlatanismo não tem objetivo; onde teria a perder, seria uma estupidez. Ora, que proveito material tirou Hilário de suas faculdades? Muitas fadigas, uma grande perda de tempo, aborrecimentos, perseguições,calúnias. O que ganhou, e para ele não tem preço, foi uma fé viva em Deus, que antes não tinha, uma fé em sua bondade, na imortalidade da alma e na proteção dos Espíritos bons. Não é este, exatamente, o fruto visado pelo charlatanismo. Mas ele sabe,também, que essa proteção não se obtém senão se melhorando; é o que se esforça por fazer, e o que, também, não interessa aos charlatães. É, igualmente, o que o faz suportar com paciência as vicissitudes e as privações.

Em semelhantes casos, uma garantia de sinceridade está, pois, no absoluto desinteresse. Antes de acusar um homem de charlatanismo, é preciso perguntar que proveito pode tirar em enganar os outros, pois os charlatães não são tolos a ponto de nada ganhar e, ainda menos, de perder, ao invés de ganhar. Assim, os médiuns têm uma resposta peremptória a dar aos detratores, perguntando-lhes: Quanto me pagaram para fazer o que faço? Uma garantia não menos significativa e susceptível de causar viva impressão é a reforma de si mesmo. Só uma profunda convicção pode levar um homem a vencer-se, a desembaraçar-se do que tem de mau, a resistir aos perniciosos arrastamentos. Então, já não é apenas a faculdade que se admira, mas a pessoa que se respeita e se impõe à zombaria.

As manifestações obtidas por Hillaire são, para ele, uma coisa santa; considera-as como um favor de Deus. Os sentimentos que elas lhe inspiram estão resumidos nas seguintes palavras,extraídas do livro do Sr. Bez:

“O rumor desses novos fenômenos espalhou-se por toda parte com a rapidez do relâmpago. Todos os que, até então, ainda não haviam assistido a manifestações espíritas, ficaram mortos de vontade de ver. Mais que nunca, Hillaire foi assediado por pedidos e convites de toda sorte. Ofertas de dinheiro foram feitas por várias pessoas, a fim de o decidir a dar sessões em suas casas; mas Hillaire sempre teve a convicção profunda de que suas faculdades não lhe foram dadas senão visando à caridade, a fim de trazer a fé à alma dos incrédulos e, assim, arrancá-los ao materialismo, que os corrói sem piedade e os mergulha no egoísmo e no deboche. Desde que Deus lhe fez a graça de se servir dele para esclarecer os seus compatriotas; desde que manifestações de ordem tão elevada são produzidas por seu intermédio, o simples médium de Sonnac considerou sua mediunidade como puro sacerdócio e convenceu-se de que, no dia em que aceitasse a menor retribuição,suas faculdades lhe seriam retiradas ou entregues como um joguete aos Espíritos maus e levianos, que as utilizariam para fazer o mal ou mistificar todos aqueles que ainda cometessem a imprudência de a ele dirigir-se. E, não obstante, a posição pecuniária desse humilde instrumento se acha em estado muito precário. Sem fortuna, tem de ganhar o pão com o suor do rosto e, muitas vezes,a grande fadiga que experimenta quando se produzem algumas manifestações importantes, mina as forças que lhe são necessárias para manejar a pá e a enxada, dois instrumentos que, incessantemente, deve ter entre as mãos.”

Nos momentos de infortúnio, que tinham por objetivo experimentar sua fé e sua resignação, Hillaire, tal qual acontecera com Job, encontrou asilo e assistência nos amigos reconhecidos,que lhe deviam a consolação pelo Espiritismo. Isto é pôr à venda as manifestações dos Espíritos? Não, certamente. É um socorro que Deus lhe enviou, que podia e devia aceitar sem escrúpulo; sua consciência está em paz, porque não traficou com os dons que recebeu de graça; não vendeu as consolações aos aflitos, nem a fé que deu aos incrédulos. Quanto aos que lhe vieram em auxílio,cumpriram um dever de fraternidade, pelo que serão recompensados.

As faculdades de Hillaire são múltiplas; ele é médium vidente de primeira ordem, audiente, falante, extático e, além disso, escrevente. Obteve escrita direta e transportes notáveis. Várias vezes foi levantado e transpôs o espaço sem tocar o solo, o que não é mais sobrenatural do que ver erguer-se uma mesa. Todas as comunicações e todas as manifestações que obtém atestam a assistência dos Espíritos bons e sempre se dão em plena luz. Muitas vezes entra espontaneamente em sono sonambúlico, e é quase sempre neste estado que se produzem os mais extraordinários fenômenos.

A obra do Sr. Bez é escrita com simplicidade e sem exaltação. Não só o autor diz o que viu, como cita numerosas testemunhas oculares, a maioria das quais se interessou pessoalmente pelas manifestações; estes não teriam deixado de protestar contra inexatidões, sobretudo se lhes tivessem feito representar um papel contrário ao que se passou. O autor, justamente estimado e considerado em Bordeaux, não se teria exposto a receber semelhantes desmentidos. Pela linguagem se reconhece o homem consciencioso, que teria escrúpulo em alterar conscientemente a verdade. Aliás, não há um só desses fenômenos cuja possibilidade não seja demonstrada pelas explicações que se acham em O Livro dos Médiuns.

Esta obra difere da do Sr. Home; em vez de ser uma simples compilação de fatos, muitas vezes repetidos, sem deduções nem conclusões, encerra, sobre quase todos os que são relatados,apreciações morais e considerações filosóficas que dele fazem um livro ao mesmo tempo interessante e instrutivo, no qual se reconhece o espírita, não só convicto, mas esclarecido.

Quanto a Hillaire, felicitando-o por seu devotamento,nós o exortamos a jamais perder de vista que o que constitui o principal mérito do médium não é a transcendência de suas faculdades, que lhe podem ser retiradas a qualquer momento, mas o bom uso que delas faz. Desse uso depende a continuação da assistência dos Espíritos bons, porque há uma grande diferença entre um médium bem-dotado e o que é bem assistido. O primeiro só excita a curiosidade; o segundo, ele próprio tocado no coração, reage moralmente sobre os outros, em razão de suas qualidades pessoais. Desejamos, tanto no seu próprio interesse quanto no da causa, que os elogios de amigos, geralmente mais entusiastas que prudentes, nada lhe tirem de sua simplicidade e de sua modéstia, e não o façam cair na armadilha do orgulho, que já perdeu tantos médiuns.

PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

Estudo onde são expostas as condições de habitabilidade das terras celestes, discutidas do ponto de vista da Astronomia, da Fisiologia e da Filosofia Natural, por Camille Flammarion, adido ao Observatório de Paris. Um grosso volume in-12, com estampas astronômicas. Preço: 4 francos. – Edição de biblioteca, in-8, 7 francos. Livraria acadêmica de Didier & Cie., 35, quai des Augustins.

A falta de espaço nos obriga a adiar para o próximo número a apreciação crítica dessa importante obra.

Para as condições das obras acima, vide, mais adiante, a lista das Obras diversas sobre o Espiritismo.
R.E. , agosto de 1864, p. 338